Por Nestor Sant'Anna
Recentemente um livro passou seus escritos diante das minhas vistas e registrei algumas verdades que pareceram consistentes... percebo que neste início de conversa plagiei Fernando Brant: “o rio passava seus peixes no fundo do meu quintal...” Influência permitida para quem, há tantos anos, convive com as palavras do letrista que se desconcerta quando chamado de poeta.
No registro veio a foco a experiência rica que um grupo de idealistas vive em comum na oportunidade da WOMEX (World Music Exposition). Meses de preparação e produção, articulações e discussões com os de perto e longe, desavenças ocasionais, trocas de gentilezas e acusações, exercícios devidos e indevidos de liderança, desconfianças e, finalmente, convergência. Tudo pela projeção da música e dos músicos de Minas, tudo pelo OUTRO, que nem sempre sabe ou pode vender o próprio peixe. Informação, conhecimento, desembaraço, desinibição e estrutura raramente tomam o mesmo trem ou se dão as mãos no caminho para o mesmo destino. E pensando em mãos dadas Drummond comparece: “Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.”
Companheiros da música nutrem esperanças na ação corajosa dos que se expõem à incompreensão, a certos questionamentos injustos e a prejuízos nos próprios empreendimentos, no intento de abrir caminhos para talentos que merecem e carecem de espaços e sobrevida, de refletores e aplausos. De facilidades para melhor difundirem o mais genuíno da produção cultural de Minas, no momento em que poder público e entidades organizadas da cena musical se entrelaçam harmoniosamente, reforçando a causa antiga de romper o eixo tradicional e ecoar fora dos limites das montanhas a riqueza da produção local.
Ganha mundo a harmonia peculiar, a magia dos que, como diz João Bosco, sabem como ninguém valorizar o silêncio na composição e na interpretação. Esse esforço tem preço e acontece na base de muita Paixão e Fé. “Velejar no mar do Senhor...” Compromisso que se efetiva e se expande calcado no difícil e necessário apoio mútuo, no esquecimento de atitudes corporativas ou individualizadas, no exercício da compreensão, no espírito de corpo, no jogo bonito do todos por todos pelo OUTRO. O outro, já disseram, é que confere alteridade à vida de cada um, verdade que a arrogância, vez ou outra também presente no ambiente da cena, distancia da compreensão.
Bonito testemunhar o zelo coletivo, a empatia - no seu sentido original, qual seja o de colocar-se no lugar do OUTRO - a delicadeza, a atenção, a ternura serem prevalentes nessa missão de desbravamento, no mundo do salve-se quem puder, no ambiente universal em que se transfere para máquinas cada vez menores a guarda da memória e de outras faculdades próprias da inteligência humana. Mais bonita, porém, a constatação de que os sentimentos e as emoções não são ainda passíveis de terceirização virtual.
São concretos os êxitos, palpáveis os produtos do entendimento, ponderáveis os sinais de novos e promissores mercados para a cadeia produtiva da música dos mineiros. Cumpre-se, com espírito típico da gente da montanha e dos gerais, discretamente e com serena competência, mais um desafio que mereceu crença de gestores da cultura do Estado e investimento convenientemente administrado.
Minas é mais. Este o título da mensagem bilíngüe distribuída em peça de comunicação aos interessados nos produtos da casa. Minas foi muito mais. Esta a realidade da presença dos mineiros do Forum da Música no Bella Center, em Copenhague.
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